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Empresário e empreendedor

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Na cultura brasileira isto é patente, evidente e eloquente: se Fulano pretende abrir uma empresa qualquer, é imediatamente tratado pelo estado como um suspeito e é obrigado – se não desistir antes – a enfrentar um calvário burocrático, que antecede três outros calvários, o tributário, o regulatório e o trabalhista, a que será submetido caso venha a obter a autorização para abrir o seu negócio.

Iorio, 2011

No final da coluna sobre oferta e demanda tratei-as como uma lei, digamos, fundamental das relações econômicas humanas, e mencionei rapidamente sobre os conceitos de empresário e empreendedor. No texto de hoje quero aprofundar um pouco a mais os conceitos relacionados a essas 2 funções. Também quero lembrar sobre a última coluna onde trabalhei conceitos fundamentais que estão dentro das funções de empresário e empreendedor: tecnologia, técnica, invenção e inovação.

Empreendedor é o indivíduo que acende nele a chama da ideia. Ele é um indivíduo diferente do inventor, que “apenas” inventa coisas. Aliás, o empreendedor vai além de um inventor: ele cria coisas a partir das ideias (inventor) e coloca valor. Aqui está a verdadeira e única definição de produção de riqueza. Riqueza não é o valor monetário de algo ou a quantidade de bens; é a valoração de produtos e serviços produzidos por um indivíduo. Valoração esta é fundamentalmente dependente dos compradores. Um exemplo claro disso são as obras de artes como pintura: para leigo, como eu, não vejo valor nem perto de mil reais de um quadro. Já para um colecionador, ele pode desembolsar até milhões de dólares por um quadro. O valor é subjetivo e produzido por indivíduos ou, no nosso caso, pelos empreendedores.

Nas palavras do prof. Iorio:

Um empreendedor pode agir para satisfazer a seus próprios desejos de uma forma autônoma, mas, em geral, como existe divisão de trabalho nos mercados, ele é um produtor especializado que tem em vista consumidores generalistas. Os empresários têm o objetivo de realizar novos projetos produtivos que caiam no agrado dos consumidores e, se de um lado produzem mudanças quando criam ou fazem crescer suas empresas, por outro tentam prever as condições futuras do mercado, em termos das preferências e poder de compra dos consumidores, para que possam, adaptando-se a elas, obter

ganhos.

Iorio, 2011

Em resumo, empreendedor é a pessoa que age. Ou, melhor colocado pelo prof. Iorio:

Entenda o que significa dizer que os empreendedores “coordenam as ações dos agentes”: quando eles descobrem que podem comprar barato certo recurso para revender esse recurso a um preço maior, eles fazem com que o comportamento que era descoordenado dos donos desse recurso passe a ser coordenado com o comportamento de quem precisa desse recurso. Ao fazer isso, eles estão empreendendo.

Quanto mais forte for a atividade dos empreendedores, maiores serão as novas descobertas de meios e fins, a criatividade e a coordenação e, portanto, mais dinâmica e eficiente será a economia.

Iorio, 2011

Já o empresário é o indivíduo que está no mercado. É ele que vai explorar as oportunidades de mercado, que vai fazer escolhas. Em termos práticos, é a pessoa que vai tomar decisões em negócios e essas decisões podem trazer lucros ou prejuízos.

Um destaque: em Economia há diferença entre empresário e função empresarial. Por vezes, intercambiamos esses 2 conceitos que são diferentes da vida prática. Mas aqui estou fazendo exatamente uma aplicação da teoria: o empresário, indivíduo, é o que exerce a função empresarial: “é um elemento precioso para a realização do processo de coordenação social e dos juízos dos resultados da ação humana no campo econômico” (Iorio, 2011).

Observe que há uma clara diferença entre empresário e empreendedor. Em termos práticos, o empreendedor é o que executa as ideias ou coloca em comercialização as invenções (inovação). O empresário é o indivíduo que faz escolhas em um mercado com intuito de receber retorno comercial positivo, mas sempre há o risco de ter muitas perdas também. E um empresário pode ser um empreendedor e vice-versa. Não há impeditivos para que essas duas funções estejam na mesma pessoa.

Colocando a função empresarial em uma pessoa, o empresário, podemos sintetizar com o prof. Lorio:

Como em qualquer ação humana, a ação empresarial se processa em ambiente de surpresa e de incerteza genuína e requer criatividade, uma vez que o futuro é sempre incerto e está sempre aberto ao desenvolvimento do potencial criativo dos agentes. Outra característica da ação empresarial é que, em se tratando de escolhas ao longo do tempo e sob condições de incerteza, há sempre outras ações a que se deve renunciar. O valor subjetivo dessas ações a que se renuncia é denominado de custo. Logicamente, os agentes agem porque acreditam subjetivamente que os fins escolhidos possuem um valor maior ao dos custos decorrentes da escolha por determinada ação e a diferença constitui o lucro, que é o elemento motivador da ação. Se as ações não acarretassem custos, os valores subjetivos dos fins coincidiriam com o lucro.

Iorio, 2011

Fechando com o grande Mises:

No contexto da teoria econômica, o significado dos termos em questão é o seguinte: empresário significa o agente homem em relação às mudanças que ocorrem nos dados do mercado. Capitalista e proprietário significam o agente homem em relação às mudanças de valor e de preço que, mesmo quando os dados do mercado permanecem inalterados, decorrem da mera passagem de tempo em consequência da diferença na valoração de bens presentes e bens futuros.Mises, p. 310/3011

Na prática, o empreendedorismo é o motor do mercado.

O empreendedorismo brota do espírito criativo dos indivíduos, que os leva a assumir riscos para criar mais riqueza.

Iorio, 2011

Ficou em dúvida, quer fazer alguma crítica / sugestão / elogio? Deixe seu comentário abaixo e terei o prazer em te responder aqui ou em algum artigo específico.

Aqui deixarei sempre as referências utilizadas no texto e sugestão de leitura para aprofundamento sobre o tema:

IORIO, U. J. Ação, tempo e conhecimento: a escola austríaca de economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2011.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Vol. 1. São Paulo: Boitempo, 2013.

Von MISES, L. Ação humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

TIGRE, P. Gestão da inovação: a economia da tecnologia do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2017.

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