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Inovação

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Inovar significa navegar em mares desconhecidos, correr riscos de cometer erros, despender tempo e outros recursos, tentar, errar e tentar novamente até, eventualmente, descobrir o que se estava buscando.

Iorio, 2011

No final da coluna anterior onde tratei sobre oferta e demanda como uma lei, digamos, fundamental das relações econômicas humanas, mencionei rapidamente sobre os conceitos de empresário e empreendedor. No texto de hoje quero aprofundar um pouco a mais os conceitos relacionados a essas 2 funções, principalmente em questões mais práticas e, para os nossos propósitos futuros, a influência que isso tem em termos de tributação no Brasil.

Começando com a definição de tecnologia. Tomando por base Tigre: “A tecnologia pode ser definida como conhecimento sobre técnicas, enquanto as técnicas envolvem aplicações desse conhecimento em produtos, processos e métodos organizacionais”. Veja que nesse pequeno trecho já há a diferenciação entre tecnologia (conhecimento sobre técnicas) e técnicas (aplicação de conhecimento em produtos). Outros dois conceitos importantes são o de invenção e inovação. O primeiro “se refere à criação de um processo, técnica ou produto inédito”. Já inovação “ocorre com a efetiva aplicação prática de uma invenção”. Rogers e Shoemaker, citados por Tigre, “definem a inovação como ‘uma ideia, uma prática ou um objeto percebido como novo pelo indivíduo’”. Por último, trazendo o controverso e intrigante economista Joseph Schumpeter:

O capitalismo é, por natureza, uma forma ou método de transformação econômica e não só não é, como não pode ser estacionário. E o caráter evolucionário do processo capitalista não se deve meramente ao fato de a vida econômica transcorrer em um ambiente social e natural que se transforma incessantemente e cujas transformações alteram os dados da ação econômica; esse fato é importante e essas mudanças (guerras, revoluções e assim por diante) geralmente condicionam as mutações industriais, mas não são a sua principal causa motriz. Esse caráter evolucionário também não se deve a um crescimento quase automático da população e do capital ou aos caprichos dos sistemas monetários, que tampouco figuram entre as suas principais causas motrizes. O impulso fundamental que põe e mantém em movimento a máquina capitalista é dado pelos novos bens de consumo, os novos métodos de produção ou transporte, os novos mercados e as novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista.

Schumpeter, 2017.

Veja que a base que Schumpeter está colocando no capitalismo é a inovação. Ou seja, o capitalismo não é uma ideologia ou uma forma política, como muitos querem colocar atualmente. Ao contrário: o capitalismo é um método econômico que está em contínua mudança ou transformação. E essa mudança ou transformação se dá pela inovação. Em um outro trecho, Schumpeter é mais explícito:

A abertura de novos mercados, estrangeiros ou nacionais, e o desenvolvimento organizacional da oficina de artesão e da manufatura para os conglomerados como a U. S. Steel ilustram o mesmo processo de mutação industrial que revoluciona incessantemente a estrutura econômica de dentro para fora,destruindo incessantemente a antiga, criando incessantemente a nova. Esse processo de destruição criativa é o fato essencial do capitalismo.

Schumpeter, 2017.

Na capa do livro da edição atual do Schumpeter, o editor expõe:

Schumpeter também inaugura no debate econômico o conceito de “destruição criativa”, segundo o qual a inovação tecnológica faz, de maneira simultânea, desaparecer e surgir novas atividades econômicas. Nesse sentido, embora sujeito a períodos de depressão, o capitalismo é capaz de revolucionar os meios de produção e garantir o crescimento econômico contínuo.

Schumpeter, 2017

Há uns tempos escrevi um curso de pós-graduação em gestão da inovação. Nele resumi a inovação como sendo a soma da invenção, que abarca técnica e tecnologia, e comercialização. Em outras palavras, a inovação é a criação de produto, serviço ou processo a partir de tecnologia e com finalidade comercializável. Ou seja, uma inovação sem comercialização é uma invenção. Em uma equação:

INOVAÇÃO = INVENÇÃO + COMERCIALIZAÇÃO

É claro que a equação acima não é tão rígida como faço em física ou matemática. Mas, ela expõe, de forma resumida, o que um empresário e, antes, um empreendedor, faz em um mercado.

Finalizando, apenas um destaque. Aqui e em todas as outras colunas que eu, Alexandre, escrever, estou trazendo definições a partir da Escola Austríaca de economia. É natural, a partir deste contexto, que eu seja completamente contrário às definições marxistas. Por exemplo, para Marx coloca que o empresário (capitalista) é, em linhas gerais, um explorador do trabalhador:

A taxa de mais-valor é, assim, a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista.

Marx, 2013

Em um outro trecho, ele é mais explícito:

Assim, a produção capitalista, que é essencialmente produção de mais-valor, sucção de mais-trabalho, produz, com o prolongamento da jornada de trabalho, não apenas a debilitação da força humana de trabalho, que se vê roubada de suas condições normais, morais e físicas, de desenvolvimento e atuação. Ela produz o esgotamento e a morte prematuros da própria força de trabalho. Ela prolonga o tempo de produção do trabalhador durante certo período mediante o encurtamento de seu tempo de vida.

Marx, 2013

Em outros textos poderei desenvolver melhor, teórica e academicamente, estes conceitos de mais-valia (a editora Boitempo traduziu como mais-valor), teoria da exploração (já refutada nas primeiras décadas do séc. XX por Böhm-Bawerk e Mises) e outros temas relacionados. Mas, já deixo explicitado que não sigo as ideias teóricas socialistas de economia.

Na próxima coluna, com estes conceitos em mente, trabalharei as definições de empreendedor e empresário. Apesar de serem funções diferentes, já adianto que elas podem estar dentro do mesmo indivíduo: basta que ele aja.

Só há um critério para avaliar a ação humana: saber se ela é ou não adequada para atingir os fins escolhidos pelos agentes homens.

Mises, 2010

Ficou em dúvida, quer fazer alguma crítica / sugestão / elogio? Deixe seu comentário abaixo e terei o prazer em te responder aqui ou em algum artigo específico.

Aqui deixarei sempre as referências utilizadas no texto e sugestão de leitura para aprofundamento sobre o tema:

IORIO, U. J. Ação, tempo e conhecimento: a escola austríaca de economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2011.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Vol. 1. São Paulo: Boitempo, 2013.

Von MISES, L. Ação humana. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

TIGRE, P. Gestão da inovação: a economia da tecnologia do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. São Paulo: Editora Unesp Digital, 2017.

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